destranco
tranco
saio
caminho
espero
faço sinal
quatro reais e cinco centavos a passagem
tá caro
mas pra tu tanto faz
"bom dia"
"boa noite"
"boa tarde"
(é de lei)
entro
a roleta gira
e grita
- mais um filho da puta na corrida!
- jeito de idiota
- e marrinha de artista
- tomara que não seja poeta...
uma cabeça é como uma via expressa
onde muitas coisas se passam
e muitas poucas também
(instável)
ambiente de incertezas
impurezas
e pedágio inflacionado
um pato cabeça de lobo
perna de pombo
e piru de elefante
dois homens sondando o espaço
de camisa regata, bermuda e chinelo
ainda
uma briga severa
de gatos e ratos
unidos em grupo contra a velha política
que delicia
tudo se mescla
e amassa
e transpassa
e me assa numa suruba louca metamórfica
que só cabe aqui
na ideia pensante de via pulsante
que é minha cabeça
mas tu diz ser poema
(E não para de cantar)
sou homem menino
sem dó e sem paz
sem jeito e sem face
um quase ninguém
tenho olhos e boca
medo e desejos
carnes e ossos
e nojo de aspargo
tenho gosto de gente
jeito de gente
cheiro de gente
duas pernas e braços
tenho muito pra falar e nada a escutar
tenho muito a escutar e nada pra falar
como um sapo na garganta
fungos e frieiras
um galo em minha cabeça
que não para de cantar
a chuva cai
e as janelas choram
do meu quarto eu não choro
mas queria...
desejos opostos
e sentimento em contramão
lua minguante
chuva palito
vento soprante
um sapo pula em minha barriga
e faz tudo aqui dentro mexer
tempestade interna
com raios de ansiedade
o canário canta na amendoeira lá fora
e quase que morre afogado
canário
que pena
não me importo
aqui dentro não chove há dias
aqui dentro não molha há horas
nem lágrima
nem água
sem sorte
nem morte
(Se pensa quica, se quica rola)
Dia de bom vento
E escudo do flamengo
Lata
Linha
Rabiola
Cerol
Cuidado com a cabeça
Se não vira futebol
(Tarada)
Quando é pra mijar, ela mija pelada
Quando é pra cagar, ela caga pelada
Ao tomar o seu banho, é sempre pelada
E até pra nascer foi sem roupa nem nada
Ô moça despida de dado "respeito"
Na cama ou na lama
A chamam "tarada"
(Texto, texturas e textículos)
O
Pau
É
Duro
Mas
O
Coração
É
Mole
É mole?!
(Azul)
I need to say something:
O sadismo não está nos joguinhos de tiro
Nas raquetes elétricas que torturam mosquitos
Ou sequer no tio do zap que resposta tragédia
Os verdadeiros perversos do mundo possuem lataria
E são movidos a motores
Esses podem causar uma chacina em sua mera e plena presença
Uma guerra em sua pura existência
Quem é o filho da puta que diante das consequências ignora a violência e segue a andar de fusca azul?!
(Pai nosso)
Pai nosso que fora comprar cigarro
Santificado seja a sua ausência
Não vem a nós nem ao vosso reino
Nunca fizera a nossa vontade
Seja na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia jamais fora dado
Perdoe-se de suas ofensas
Assim como nós pensaremos em perdoar o que nos tem ofendido
Não te deixais cair em tentação
Mas se livres do mau
Amém
(0X1)
Mascando mil chicletes Pra grudar-me em seus beijos Sugando sua língua Pra adentrar seu cerebelo Nas contas tão covardes Que jamais sequer se batem Vou contando nosso empate Mas ao fim sou eu que perco
Te perco
(Paz terrível)
Pedras sedentárias que não saem do lugar Barrigas sonolentas nunca param de roncar Em neblinas visuais E jaulas residenciais Me sinto preso em pura paz Só mesmo o caos pra me acalmar
(Versos de um assassino)
Eu já estava para além do pípedo... Se a justiça é mesmo justa Então prefiro o esgarçado - nem tão pouco engraçado - Todo dia alguém morre Muito mais do que alguém vive Balas não possuem nome - é o que dizem no jornal É "tanto faz" Que pouco fez Só vai crescendo o ódio interno
Eu juro se eu matar Podem saber Eu fiz querendo
(Orgenharia)
De chave em chave penetrante As trancas gozam em quietude Lares sempre violados Por vontades de vibrar O amor pode ser rude Alagando-se em açudes Essa casa é puro alude De fuder e de transar
(Marciano latino-americano)
Teimosia passarinha Se negando à gravidade Mediunidades criativas Só me encantam a realidade No pula pula de colchões Que adentram outras dimensões Confundo estrelas com aviões Mesmo na Terra Eu sou de Marte
(Castelinho de areia)
Num castelo de areia,
sem seu duque nem princesa,
um menino encontrou um bom lugar pra então reinar.
Construiu sua fortaleza,
descartou delicadeza,
e seu puro sentimento quis ali depositar.
Era o rei do tal castelo,
ditador de seus mistérios,
tão bobinho que esqueceu do velho vento se cuidar.
Veio a noite, adeus mistério;
veio o sopro, adeus castelo;
veio a vida em puro vento pra acabar com o que era etéreo
(Exemplo)
Um exemplo
Fugiu da gaiola
Saiu pela porta
E se tornou real
(Zoológica do amor)
O flerte é felino E o amor é indigno Fogos de sacrifício Me espantam o que for Sou gato sem faro E macaco sem rabo Fico doido encucado Um menino ao seu lado
(Engole o choro e segue o baile)
Colmeias humanas nas vias urbanas Tumultos sacanas sufocam meu ar Bebês pós modernos de pais pouco sérios O mundo é incerto e os rouba o chorar Meu quarto é meu útero E aqui não me estresso Eu vivo de luto Sem saber ao certo Sou fruto do ego E disso não nego Minha vida é recesso E ainda vai começar
(Digestão erógena)
Em peidos criminosos Que se prendem ao te ver Eletricistas niilistas Nem se chocam em viver Na diarreia de regrinhas De quem só come farinha Tu és sua Não és minha Mas só penso em te comer
(O bonito é ser feio)
Surtinhos de pelúcia Que me afagam o coração Cadeiras aleijadas Sem suas pernas caem ao chão Nos romances financeiros E fetiches por dinheiro É no caos que há gracejo Então, viva a rebelião!
(Lovely streets)
Pedestres tão charmosos Que engarrafam o coração A pressa é minha amiga E eu sou contra a perfeição Nos asfaltos temperados Com bitucas de cigarro Em cada passo Que eu me arrasto Morro e mato Por paixão
Se o presidente deste corpo for eu
(Mas só se ele for eu)
Então renuncio
Renuncio agora
Não quero e não me interessa me governar
Prefiro o descaso
O descontrole
Prefiro que os corpos alheios me carreguem
Os brutos me enfrentem
E os seres se alimentem deste ser que já morreu
(Socorro!)
O sinal tava fechado
A rua tava vazia
Um cone foi atropelado
E ninguém o socorreu
(Conhecidos)
Te desconheço pelas ruas
Pra não ser reconhecido
Tu abaixa e vira o rosto
Pra eu sequer poder te ver
Dois conhecidos se cruzando
E nunca mais lembrando
Tão conhecidos que preferem
O quanto antes se esquecer
(Mitologia adolescente)
Loiras do banheiro
Em trilogias do pavor
Falei falei falei
Mas nem o caos me escutou
Vou gritando essa voz feia
Pra que alguém sequer me leia
Minhas gavetas sempre cheias
De tanto guardar rancor
(É fauna é flora)
Borboletas na barriga
Formigando em minha memória
Esqueço de lembrar
Pra preservar toda vergonha
Nas tristezas desses cactos
Que não ganham um só abraço
Me pinico em puro afago
De ter luz
Mas só ver sombra
(Balada do homem triste)
Tudo que é
Só se é porque foi
Vidas feijão
E desgostos arroz
Em miopias de sentidos
E bocejos ofensivos
Já me canso de estar vivo
Almejando o meu depois
(Efemeridade - capilar)
Falências de amizades
E divórcios de ideias
Mesmo quem se vai
Também tem pelo na churreia
Em segredos de espelhos
Que refletem o que não vejo
Ainda que eu não tenha pelos
Me penteio sem ter trégua
(Nem doce nem salgado)
Varrendo meus desejos
Pra debaixo das vergonhas
Fazendas de remela
Nessas terras de quem sonha
Em vidas amputadas
Que começam quando acaba
Cozinhando minhas amarras
Não sou milho eu sou pamonha
(E tudo se repete outra vez)
Discos arranhados
Em gagueiras musicais
Me me me arrasto pela vida
Sem saber quem são meus pais
Pe pe pessoas que perdi
E sentimentos que achei
Se se morri
Ou morrerei
Po pouco importa pros demais
(Eloquência dental)
Cagando minhas palavras
Sem descargas num pinico
Diários com amnésia
Que se esquecem do que eu digo
Se esquecem
Já me esqueço
Não confio no que vejo
Sorrisos de aparelho
São tão falsos em meus livros
(Achei que era aflição mas era só ansiedade)
Futuros apressados
Que não aguardam a cada passo
Contando cada pelo
Que pinica nos meus braços
Em sexos de coelho
E jardineiros de cabelo
Vou aparando meus anseios
Só pra ver se eu morro rápido
(Utopia conclusiva que se foda a monarquia)
Na saudades de viver
Aquilo tudo que inventei
Um lugar que todo homem
Bem no fundo fosse gay
Um lugar com alergia
A todo tipo de polícia
Cegonhas de camisinha
Ninguém ia ser mais rei
(Eztetyka do eu)
Desenhos de pinto
Em janelas de carro
Incêndios anais
Só deu ser tão tarado
No tudo que sou
E no tudo que faço
Meus próprios reflexos
Já enxergam um surtado
(Dicotomia da existência/alguém me tira daqui!)
Abelhas terroristas
Em ataque a guaravitas
Colheres que se curvam
A pensamentos de matilha
Nos dias de vigília
Com preguiça de existir
Me enforco nesse tédio
De chorar
E de sorrir
(Mudo por opção)
Goteiras de saliva
Em tantos sonhos derramados
Cuspes passageiros
Que preenchem meus diálogos
Nos papos com espelhos
Sem saber quem sou direito
Independente dos meus feitos
Sou melhor se sou calado
(Ode aos assaltos mentais)
Coceiras na cabeça
Em micoses cerebrais
Sequela de lembranças
Em cada dia que se vai
Se vai então se foi
1+1=3
Piratas de emoções
Me roubam mais uma vez
(Aves da sinceridade)
Camisa gozada de pasta dental
Papagaios são espelhos
E eu me enxergo um animal
Papagaios são espelhos
Me gritando seus desejos
Um molambo sem dar beijos
Sou eu mesmo a alho e sal
(Vocês vão ver)
Nas noites que eu mijava da janela
Com medo de sair até o banheiro
A inocência tão passiva e tão singela
Me roubaram como as chamas dum isqueiro
De tanto que eu choro
Já nem posso mais suar
No fundo de meu corpo
Tem um bobo a lamentar
Se eu ajo como penso
E eu penso sem agir
Em olhares que me filmam
Tenho muito a redimir
(Tem dias que me esqueço como é não estar sozinho)
Umbigos de piscina
Em pocinhas de suor
Beijou minha barriga
Desfazendo aquele nó
Nas onças mal pintadas
E diarreia de palavras
Nesse corpo de amarras
Não me aguento estando só
(Pizza no sovaco)
União inseparável
Dos casais que peidam juntos
Em passos desregrados
Que me deixam o pé imundo
Nos diálogos mal amados
E timidez dos papagaios calados
Em sovacos que me ficam suados
Já não suporto o nervosismo do mundo
(Farol aceso)
Na crise de abandono
Das camisinhas já usadas
Me sinto triste e murcho
Como um broxa sem viagra
Em mamilos pontudinhos
Que me espetam os abraços
Procuro em cada esquina
Algum carinho algum cuidado
(Méqui)
Comida rápida
Que nos mata rápido
Em fast-food
Que me entope os vasos
É fast-food
Mas não é fast and furious
Cadê o Vin Diesel pra salvar a cidade?
Cadê seu pingo de humanidade?
Nos tantos circos vivos por ai
Palhaços cultivam a obesidade
(Fronemofobia)
Faço uma sinfonia preguiçosa
Com os estalos do meu corpo
Tec tec no toc toc
Tec tec em meu osso oco
Nos redemoinhos de ralo de pia
E terremotos nesse globo tão bobo
Algum dia ainda viro garoto
E enfrento o silêncio
Sem qualquer covardia
Quando pequeno eu mijava na piscina
Tomava banho em minha pia
Roubava coisas pequeninas
E em dias de vacina
Não cansava de chorar
Borboletas que voavam em harmonia
Me contavam sua vida
Nas paradas de um instante
Seus segredos pra planar
Somente adultos tão gigantes
Com certezas alarmantes
Me batiam sem calmante
Por que mesmo eu fui errar?
Errando mesmo em acertar
Me afogando ao nadar
Se eu pudesse em toda janta
Eu almoçava sem falar
Sobremesas ao jantar
Piolho na cabeça
A me coçar
Catapora em todo corpo
Se chorar vai piorar
Se chorar vai piorar
Se chorar vai piorar
Quando pequeno eu mijava na piscina
E a bebia sem pensar